Filosofia de ensino
Quando terminei, em 2005, a minha licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas variante de Inglês e de Alemão, fui confrontada com várias questões internas: e agora o que vou fazer? Como vou conseguir entrar no mundo do ensino? O que é que vou fazer da minha vida? Como colocar em prática o que eu defendo em termos de aprendizagem e pedagogia?
Ana Catarina Dantas | Coordenadora e Proprietária

O regresso
De regresso à minha cidade e sem nenhuma janela de oportunidade em vista para ingressar no mundo profissional fiz algumas pesquisas sobre o ensino de inglês precoce (pois apesar de me ter formado para lecionar no 3ºciclo e ensino secundário, a minha paixão sempre foram as crianças) escrevi um projeto que apresentei aos principais infantários de Viana do Castelo. Na altura, os infantários não ofereciam qualquer tipo de atividade extracurricular, ao contrário do que acontece nos dias de hoje, sendo que consideraram uma boa ideia incluir como atividade extra o ensino de inglês. E agora?
Tenho dezenas de pais que inscreveram os seus filhos nas aulas de inglês e eu nem sei quais as metodologias usadas na idade pré-escolar para garantir a aprendizagem efetiva da língua inglesa. Com muito empenho, pesquisa, construção de material, interajuda em especial de uma educadora de infância fui avançando com o projeto e identificando-me muito com uma visão do ensino totalmente diferente da do ensino tradicional, percebendo desde logo que cada criança/pessoa é um ser único e que merece ser respeitada como este ser único que é ao invés de ser moldada para se identificar/pertencer a um grupo padrão, onde todos supostamente devem aprender o mesmo e da mesma forma.
Experiências no Estrangeiro
Todo o trabalho que desenvolvi nestes anos em que desenvolvi o meu projeto junto de crianças entre os 3 e os 6 anos moldaram a minha visão acerca do ensino, tendo me seduzido o facto de as crianças aprenderem a brincar, de forma lúdica e intuitiva. Foi um grande desafio para mim ensinar uma língua estrangeira sem o apoio das componentes de compreensão e produção escrita, centrando-me apenas na compreensão e produção oral.
Outro desafio profissional que também contribuiu muito para a minha filosofia de ensino foi o ter lecionado aulas durante 5 verões numa escola privada de línguas na Suiça em regime de internato, onde no primeiro dia em que me apresentei o diretor nos disse: “Todas as crianças e adolescentes que vão passar por aqui ao longo destas semanas estão cansadas das aulas pois acabaram agora o ano letivo”.
“No entanto”, disse o diretor, “os pais destes jovens entenderam que eles deveriam ir para um país estrangeiro desenvolver as suas competências em Inglês e em Alemão. Eu não quero o uso de manuais ou de fichas de trabalho. Pensem, inventem uma forma de os ensinar uma língua ou de os ajudar a desenvolver a mesma sem recurso aquilo que eles têm contacto todos os dias dentro das escolas deles”.
A Descoberta
Primeiramente senti-me um pouco perdida, mas depois a liberdade que tinha para trabalhar de uma outra forma deu-me asas para por em pratica o método de ensino que andava a desenvolver no pré-escolar, mas agora dirigido para uma faixa etária diferente. Catorze anos depois de ter iniciado este projeto nos infantários, e após já ter tido a oportunidade de ter trabalhado não só nesta escola na Suíça, mas também em várias escolas e institutos privados em Viana do Castelo, com turmas de todas as faixas etárias desde o pré-escolar ao ensino sénior, o facto de ter iniciado a minha prática pedagógica com recurso apenas a atividades que visavam a produção e a compreensão oral fez com que ao abraçar outros projetos, outra faixa etária privilegiasse sempre um tipo de ensino intuitivo e distante daquele ensino que assenta em regras gramaticais e aquisição de vocabulário e que pura e simplesmente segue um manual.
No entanto, a vontade de crescer profissionalmente, de aprender, de melhorar a minha prática pedagógica mantém-se inalterada. Fiz uma pós-graduação em Arteterapia aplicada a instituições pedagógicas com o objetivo de crescer pessoalmente, mas o de também ganhar competências para trazer para dentro da sala de aula recursos e atividades novas que para além de visarem a aprendizagem da língua inglesa pudessem também contribuir para o desenvolvimento interno de todos os meus alunos. Coincidentemente na altura em que estava a frequentar esta pós-graduação deparei-me com uma metodologia de ensino com mais de 100 anos, mas que era novidade para mim. Ao esfolhear uma revista li uma notícia sobre o facto do filho do príncipe William frequentar uma Escola Montessori, o que me suscitou bastante curiosidade pois nunca havia ouvido falar sobre este método de ensino.
O Surgimento
Comecei a fazer algumas pesquisas e à medida que ia lendo e descortinando o que era esta metodologia fui-me apaixonando por este tipo de ensino o que me levou a frequentar algumas formações e a dar inicio a um novo projeto onde abri uma academia de educação em Viana do Castelo que denominei de “Saber Ser” pois acredito que é possível se praticar um ensino holístico de um individuo.
A vontade de saber mais e servir melhor os meus alunos levaram-me a inscrever-me no ano passado num Mestrado de Ensino de Inglês para Crianças no 1º Ciclo da Universidade do Minho, sendo esta uma oportunidade de pôr em prática o que conheço em teoria deste método de ensino, de o sentir, de vivenciar e de refletir sobre o mesmo, pois a filosofia de ensino que quero abraçar é aquela com a qual me identifiquei ao longo do caminho que fui percorrendo nestes anos no ensino, mas que não sabia como a denominar, uma filosofia que visa uma forma diferente de se pensar, uma filosofia de vida que me permita acompanhar a criança no seu desenvolvimento e que contribua não só para a aprendizagem dela face à língua inglesa, mas também para que seja feliz e esteja num ambiente harmonioso nos momentos que iremos partilhar.
Acredito que para visar o bem-estar de uma criança o caminho a seguir é aquele que garanta o desenvolvimento da sua autonomia, da sua autorregulação, da sua liberdade de escolha, da possibilidade de se movimentar dentro do ambiente da sua aprendizagem, de aprender com as outras crianças e de ser sempre respeitada na sua individualidade. E é isto que me proponho a oferecer às crianças e adolescentes que frequentam esta academia.
