Halloween à Portuguesa – a “Maria Gancha”

maria gancha - saber ser folclore

O Halloween foi nos últimos anos introduzido à cultura portuguesa. Uma data na qual vestimo-nos de monstros e criaturas fantásticas – especialmente as crianças – e nos colocamos a pedir doces ou a fazer travessuras nas ruas quando não nos dão.

Esta celebração, que deixa as lojas dos shoppings e supermercados repletas de costumes e apetrechos de criaturas como vampiros, bruxas, esqueletos e zumbis, reflete muito a forma com que os americanos comemoram a data.

Contudo, à parte dos monstros populares e conhecidos em todo o mundo, a Saber Ser idealizou o Halloween com um toque português – a incluir as lendas, crendices, a tradição oral e as criaturas fantásticas da memória regionalista de Portugal.

Hoje falaremos mais sobre uma criatura criada nos tempos de outrora, para evitar que crianças fossem ter aos poços: a MARIA GANCHA.

Maria Gancha é um ser maléfico do folclore português, ainda hoje referido com frequência no Minho. A Maria Gancha tem os braços em forma de gancho e vive no fundo dos poços.

A Maria Gancha afoga os meninos que se aproximam do poço onde ela vive. Nas lendas de Maiorca ela chama-se Maria Enganxa. Enquadra-se num conjunto de criaturas chamado Medos ou Papões, por serem utilizados pelos pais e educadores para assustar as crianças, procurando limitar o seu raio de ação para prevenir que aquelas se aproximassem de locais perigosos. No caso da Maria Gancha, os poços eram os locais perigosos a evitar, como diz a história da tradição oral:

Os mais velhos, para evitar que as crianças se aproximassem dos poços, que são um autêntico perigo, costumavam dizer aos filhos:
– Não vás para a beira do poço, pois vive lá a Maria Gancha e ela pode agarrar-te e levar-te para o fundo.
As crianças ficavam com medo e não se aproximam.
E para que não houvesse dúvidas da verdade, contavam a seguinte história:
Um dia um rapazinho, que parece que tinha o diabo no corpo, não se mostrou amedrontado com o que a mãe lhe disse acerca da Maria Gancha e arriscou aproximar-se da boca de um poço. Espreitou para dentro e viu que era muito fundo e escuro. Pegou num calhau e lançou-o dentro. O dito calhau fez um grande estardalhaço ao tocar nas paredes do poço, que eram de pedra e, ao chegar ao fundo, agitou as águas, acordando a Maria Gancha. Esta, zangada com o atrevimento do rapaz, subiu pela corda do balde com que se tirava a água, agarrou-o com os seus braços em forma de gancho e levou-o para o fundo e ali o afogou.
Os pais, preocupados com o desaparecimento do filho, procuraram-no em vão por todo o lado. Uma vizinha, quando no dia seguinte foi tirar água ao poço para fazer a janta, deu com ele a boiar no fundo.

Carlos Matos

Carlos Matos é jornalista, designer, PHP full-stack developer e possui livros publicados nas áreas de empreendedorismo, marketing, segurança do trabalho e temas transversais na educação.