O que é RPG e como ele pode ajudar na educação?

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As crianças e os adolescentes de hoje poderão estar mais informados sobre este tema. Os jogos do estilo RPG migraram com força total para o mercado de jogos eletrónicos, mas surgiram muito antes disto tudo.

A sigla RPG designa os “role-playing games“. Em tese, um jogo de interpretação de papéis, no qual o jogador crie e personifica uma personagem, que evolui consoante as ações desse mesmo jogador.

Embora haja registos anteriores de jogos similares, o primeiro RPG nos moldes que se utilizam hoje surgiu em 1974, com o lançamento do célebre Dungeons & Dragons.

O que torna o RPG especial?

Os jogos de RPG lembram, em alguns aspetos, os jogos tradicionais de tabuleiro. Eles possuem uma série de regras e procedimentos que permitem aos jogadores executarem as ações e superarem os desafios interpostos pelo participante que comanda o jogo – o “mestre".

Tais regras envolvem, contudo, os atributos dos personagens criados pelos jogadores, os limites das ações que podem ou devem ser tomadas e a mecânica do jogo em si.

Cada sistema de RPG possui regras próprias e utiliza alguma variedade de ferramentas para desenrolar a ação e o jogo. Títulos temáticos associam-se a estes sistemas: GURPS, Sistema D20, Storyteller, etc.

Poderíamos explicar a fundo o como funciona cada um destes jogos e sistemas, mas atenhamo-nos ao caráter educativo dessa prática. No campo educativo, o RPG pode ter várias aplicações e permite aos estudantes desenvolverem múltiplas competências – não somente técnicas, mas sociais e emocionais também.

RPG - Muita leitura

Qualquer sistema de RPG tradicional (não em jogos eletrónicos) exige dos jogadores um imenso exercício de leitura.

Primeiramente, é preciso perceber as regras para que possa desenvolver bem o seu personagem no jogo. Magias usadas, atributos físicos e intelectuais das personagens, histórias e contos que narram as ações e as aventuras, noções de interpretação para a personificação das personagens criadas.

Os sistemas possuem livros – em geral diversos: um para os jogadores que serão os mestres, outros para os que jogarão com as personagens, livros de magias, de monstros, de armas e itens especiais, de aventuras customizadas, enigmas, histórias de fundo dos mundos fantásticos onde decorrem os jogos, etc.

RPG - Matemática e ciências

Mesmo sem grandes alterações, a maioria dos jogos de RPG empregam consideráveis doses de matemática, estatística e ciências nas suas regras e ferramentas.

Para além da atuação dos jogadores, as personagens jogam com ações tomadas pelos participantes que têm probabilidades de ocorrer com sucesso ou não. Isto é, se um jogador decide atacar um monstro, o seu ataque irá obter um desempenho diferente, consoante uma série de fatores: força e destreza da personagem, dano médio da arma empregada, nível de acerto e acurácia, probabilidades de esquiva da criatura, etc.

Para tal, usam-se em geral dados – e além do tradicional dado de 6 lados, muitos sistemas empregam exóticos dados de 4, 8, 10, 12, 20 e até 100 lados!

RPG - Criatividade e imaginação

Diferente do que ocorre nos jogos de tabuleiro ou eletrónicos, no RPG os livros apenas concedem uma ideia do universo no qual se passa o jogo e das regras que regem este universo.

Do mesmo modo, o mestre é ao mesmo tempo um contador de histórias, que narra a aventura, e um juiz, que controla as regras. Aos jogadores cabe o papel de preencher as entrelinhas.

Imagine os jogadores em uma sala na qual há um monstro. Qualquer um deles poderá decidir a sua ação, explicá-la ou atuar conforme prefira. Podem atacar, esconder-se, fugir… mas também dançar como loucos, atacar os demais jogadores ao invés do monstro, etc. Cada ação terá um efeito sobre os demais jogadores e contará com o auxílio do mestre, que descreverá o como o ambiente e as demais personagens da história reagem.

Há regras, como no mundo e na sociedade, mas cada jogador pode tomar a ação que quiser – e para cada uma delas, haverá uma consequência.

RPG - Competências sociais

Num jogo de RPG, os jogadores não são “obrigados" a perseguir os mesmos objetivos. Podem aliar-se, atuarem uns contra os outros, realizar ações individuais ou conjuntas.

No RPG, o espírito de equipa surge da necessidade de cada um em cumprir os seus próprios objetivos. Os participantes são obrigados a perceber de que modo os colegas podem ajudá-los e, para tal, fazer concessões para conseguirem aquilo que querem.

Afora a convivência, o decorrer do jogo cria laços e ensina os jogadores a lidar com diferenças de opinião, exercita a capacidade de negociar e a tolerância no sentido de aceitar decisões que vão contra os seus próprios valores.

Carlos Matos

Carlos Matos é jornalista, designer, PHP full-stack developer e possui livros publicados nas áreas de empreendedorismo, marketing, segurança do trabalho e temas transversais na educação.